COLUNA DO CEREZONE 6

Toma que o Pente é Seu!

Um dos grandes jogadores do Força e Saúde em todos os tempos é o nosso querido Leandro, mais conhecido pela alcunha de Napão, haja vista a anatomia avantajada de sua napa. Morador da área, passou pelo inesquecível Ouro Preto, time de base de quase toda a rapaziada que subiu posteriormente para o FS. Originariamente lateral esquerdo, devido ao longo reinado da dupla formada por Paulinho Camburão e pelo saudoso Eduardo "Odair José" Cariri, com o passar dos anos migrou para a quarta zaga, aliando disposição - e alguma violência ao estilo
Rondinelli quando saia na cobertura dos laterais - à técnica refinada. Sua alta estatura era um antídoto eficiente ao jogo aéreo dos adversários, assim como a facilidade de sair jogando uma válvula de escape para o meio campo, em geral muito congestionado.

Infelizmente, ficou muito marcado pela batalha das quartas de final contra o Areia, no amador. Na primeira partida, 1 X 1, nosso gol de empate marcado pelo genial ponta direita PC, o Anão, aos 31 do segundo tempo, o que provocou uma pancadaria generalizada e o fim da partida. No segundo jogo, precisando da vitória, o Força abriu vantagem no placar logo no início da partida, jogando fácil. Mas sofremos o empate quando Napão cismou de driblar o atacante Virgílio dentro da área. Para quem não ligou o nome à pessoa, Virgílio foi um dos maiores atacantes do futebol de praia, um gigante no futebol e no corpanzil, exímio lutador e atleta dos mais leais que já passou pelas areias de Copa, protagonista de duelos memoráveis contra o nosso inesquecível Grilo. Mas a fatalidade contra o Areia, longe de manchar a carreira de Leandro, serviu para ensiná-lo uma lição para toda a vida (ao menos acreditamos que assim o seja).

Leandro Napão possuia, além das já descritas qualidade técnicas, uma personalidade ímpar, portador de uma dada "ingenuidade" que o levava a cometer certos desatinos em campo, um deles motivo desta mal traçada crônica. Década de 80, o campeonato de praia no seu auge, motivo de reportagens nos grandes periódicos da época, tentativa de se levantar um esporte geralmente associado a torcedores violentos, atletas mal humorados e juízes que dificilmente escapavam de perseguições pelas ruas de Copa. Afinal, até Arnaldo Cezar "a regra é clara"
Coelho já teve que fugir nadando para escapar da ira da massa. Os jogos em frente à RP eram verdadeiras festas, no campo conhecido como Ma..nhão, onde sempre atacávamos, no segundo tempo, em direção ao gol em frente à rua. Creio que o jogo em questão era contra o Guaíba, tradicional adversário das areias da Urca, partida sempre pegada, necessitando de um árbitro de pulso, que pudesse controlar os ânimos em brasa dos atletas e da torcida.

O juiz em questão era Paulo César, vulgo PC, conhecido por sua simpatia pelos times de uma determinada área da praia. Enérgico, PC distribuia cartões a torto e a direito, não poupando ninguém de suas reprimendas verbais. Já na preleção, alertávamos os mais esquentados (entre eles este que vos escreve) a evitar reclamações e entradas mais violentas, se quiséssemos terminar com 11 ao fim da partida. Pois bem, abrimos 1 X 0 no placar, vantagem magra mas significativa no difícil xadrez tático que se desenhava em campo. As chances eram raras, muita marcação na meiúca, discussão entre os jogadores, clima quente. Não mais que de repente, córner para o Guaíba, nosso bravo Napão se abaixa, pega um objeto na areia e se dirige ao árbitro: "PC, toma aí seu pente!" Tratava-se de um pente Flamengo, preto, fininho. Paulo César levou alguns 20 segundos para entender do que se tratava. Bufando, quase rasgou o bolso para dele retirar o cartão vermelho que, incontinenti, mostrou ao surpreso Napão, que ainda ouviu uma meia-dúzia de xingamentos pelos ouvidos afora. Não é preciso dizer que, se estava difícil 11 contra 11, com menos um tivemos que suar sangue para garantir a vitória, o que acabou se concretizando ao final. A história entrou para o anedotário eterno do Napão, como o jogo do Pente do PC.