COLUNA DO CEREZONE 3

Missão em Nikiti

O Campeonato Carioca de Futebol de Praia, leia-se o verdadeiro, 11 contra 11, já contou com a participação de times de fora do Rio. Um deles, de Niterói, a gloriosa Nikiti tão decantada por seus habitantes. Se não me falha a memória, a agremiação que representava a terra de Araribóia era o Grêmio Icaraí. Em um dos muitos torneios realizados na década de 80, a tabela previa uma partida em Nikiti, o que foi, para a galera atentada do FS, motivo de grande expectativa. Não que o bravo Grêmio Icaraí fosse um Barcelona da época, mas pelo fato de termos de alugar um ônibus que comportasse a delegação e o bando de insanos que sempre acompanhava o time. Pode-se imaginar cerca de 50 malucos, preparados para tudo, dividindo um ônibus privativo...

Já na concentração, marcada em frente ao Cícero Pena, os espíritos se mostravam guerreiros, a zoação era geral. Cada um que chegava era homenageado com sua respectiva musiquinha. Para quem se lembra ou foi o autor de alguma delas, sem querer fuleirar ainda mais seus destinatários, ecoavam trechos tais como "não, não, não..", "é de borracha, é de borracha...", "vou te fazer neném...", "N. tá, demitido...". Tudo era festa! Os doentes buscavam assumir suas posições na viatura, garantindo a janelinha que permitiria esculachar os passantes durante o trajeto. Um deles, conhecido e reconhecido pelo tema musical "cadê o cheirinho da Loló do B.", postou-se na banco do cobrador. A cada incauto que entrava no ônibus cabia uma meia dúzia de socos e bicudos, além da fuleiragem habitual.

A chegada em Niterói foi épica. Assim que a ponte foi vencida, foram ouvidos os coros de "o rato rui, o rato rói, f.d.p. é quem mora em Niterói" e "de São Francisco, a Icaraí, f.d.p. é quem mora por aqui", para injúria dos pedestres que olhavam assustados àquela invasão. O clímax ficou guardado para o destino final, a praia de Icaraí. Assim que o ônibus parou, além dos tradicionais gritos de guerra, um extintor foi devidamente esvaziado pela janela, seguido de uma salva de morteiros. A pequena torcida local temeu pelo pior, afinal o jogo nem havia começado e já parecia o campo de batalha de Stalingrado, em plena 2a Guerra Mundial. A partida, no entanto, transcorreu tranquila, com vitória do FS. A Águia tinha pousado e vencido em Nikiti.

Mas o melhor estava guardado para a volta. Já devidamente calibrados, os integrantes da delegação dividiram-se entre os caveiras veteranos, que ocupavam a frente do veículo, e os aspiras, na parte traseira. Naturalmente, a galera mais jovem era muito mais criativa, homenageando os colegas mais velhos com verdadeiros hinos de fuleiras. Entre os caveiras, figuras lendárias da RP, como Grilo, Lula, Camburão, Rico, Fabrini, Farah e Miro. À medida que o ônibus avançava, percebia-se entre os caveiras a disposição de dar o troco, na forma de um corredor polonês quando o ônibus parasse. Não por outra razão, esse que vos escreve, assim que atingimos o sinal da Barata Ribeiro com Rodolfo Dantas, pulou pela janela, vindo a cair em frente a um carro da Civil, cujos ocupantes apenas observaram a cena, sem maiores reações. Ao chegar na RP, corredor formado, um integrante da atual Diretoria de Comunicações fez pedido para passar batido, já que se encontrava meio avariado pelos cacetes da ida. Nosso saudoso Logri consentiu, apenas para, na descida da escada, poder encaixar melhor uma tremenda bicuda na coxa do nobre Diretor. Que deve, até hoje, se lembrar do doloroso final de nossa excursão.